Tel: (31) 3225-1400  (31) 3223-9232

Conto: Preciso de você

Autora: Sophia Molgori

Primeiro dia de aula desde que ela se foi. Não dá para acreditar, eu a tinha avisado, contado o que havia acontecido ao meu pai, mesmo assim, não me escutou. Eu já deveria estar acostumado, mas não tem como, ela virou meu mundo, me mostrando o melhor de mim. Agora ela se foi, para sempre, e a única coisa que eu quero é chorar e gritar até perder a voz e sei que, assim que chegar no colégio, esse será o único assunto que irá percorrer pelos corredores! Infelizmente sou obrigado a ir. 

Como esperado, foi só entrar e todos já me olharam com pena, murmurando a respeito da morte de Naomi, sim esse era o nome da garota mais incrível do mundo. Eu só queria sair, sumir, desaparecer, a sensação era de morte e as lembranças, eu conseguia ver as lembranças como se estivessem acontecendo, podia escutá-la e senti-la. Apenas fechei meus olhos, vendo o nosso dia a dia, ela chegando e me abraçando, tecnicamente pulando em mim, me derrubando no ato. 

– Cass! Cass!! CASTIEL!!!!! – Escuto alguém me chamar, rapidamente abro os olhos vendo Raquel, que era irmã de Naomi. Pensava que ela estaria mal, não tão calma. 

– O que você quer, Raquel? E como você está tão tranquila?! Sua irmã morreu ontem… 

– Estou mais preocupada com você no momento, sabe que não éramos muito próximas, agora você… Sei que só tinha ela, igual ela só tinha a você. 

 – Vê se me deixa em paz, Raquel! Eu perdi meus pais, meus pais adotivos, minha melhor amiga e agora a pessoa que mais amo na minha vida! Naomi era meu único motivo de felicidade, não me escutou, não escutou que meu pai morreu por câncer de pulmão por causa daquela droga de cigarro que ela sempre fumava! E olha só! O que aconteceu? Ela morreu por exatamente a mesma coisa! – Quando percebi, já estava chorando com todos me olhando meio assustados. – Só… me deixa em paz, por favor! 

Saí correndo, indo para o último andar do colégio, subindo as escadas do quarto de limpeza (que levavam para o terraço), sentando no pequeno muro que tinha na beirada.

Fechei meus olhos, deixando minhas memórias virem à tona em minha cabeça. Esse era o único lugar que eu tinha paz o suficiente para isso. 

A primeira lembrança que me veio foi o dia em que nos conhecemos. A segunda, quando ela se declarou para mim, me fazendo beijá-la, na hora, óbvio que a pedi em namoro depois do beijo, um dos melhores dias da minha vida. A terceira que me veio foi o melhor dia da minha vida, quando viajamos, um presente meu para ela, de aniversário, em comemoração aos seus dezoito anos, para irmos na ponte dos cadeados, onde colocamos o nosso ao lado de onde estava o dos meus pais adotivos, tínhamos ficado uma hora procurando, fechamos juntos o cadeado e também jogamos juntos a chave no rio. A quarta foi o dia em que descobrimos de sua doença, ela estava mal há dias, mas havia escondido sua tosse com sangue de mim, até desmaiar em meus braços, foi aí que a levei para o hospital e descobrimos de seu câncer no pulmão, infelizmente já estava avançado. E a quinta, a morte dela, eu estava abraçado com ela, quando ela me disse que não estava respirando, eu a abracei mais forte, chorando e gritava: “P-POR FAVOR!! SÓ DESSA VEZ! NÃO ME DEIXE!!!”, mas sentia seu braço enfraquecendo, enquanto escuto:

“Cass… E-eu te amo… M-meu Amor… ” e, logo em seguida, tudo começou a apitar e eu só berrava, sabia que nunca mais a veria, não em vida pelo menos. 

Chorava cada vez mais quando abri meus olhos. Sabia que não tinha mais ninguém, nenhum motivo e nenhuma alegria em vida, eu só a queria novamente. 

– Eu vou te ter novamente, Naomi, meu Amor…! – Falei com um sorriso no rosto. 

 
Em seguida, fiquei em pé, naquele muro que antes estava sentado e me joguei lá de cima.